Páginas

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pele

É tão bom cheiro de pele. Aquele aroma suave que ao mesmo tempo se traduz tentador pelo olfato, entra no teu corpo e aloja nos pulmões causando torrente no coração. Palpitação. Taquicardia. É o saltar mais gostoso do peito. Ao passo que internaliza, esse perfume inebriante se confunde com o ar e a respiração causa nostalgia de cheiro. Se torna lembrança. A gostosa sensação de busca.
O cheiro se transmuta em gosto. E ai sim, causa a incontrolável vontade de sentir, tocar. O cheiro toma forma, proporção. O toque na pele ardente emaranhada de um sulco próprio. E a superficie quente que entra em contato com a ponta dos dedos. Há um tremor involuntário. Mas dilacera. E a união dos corpos quentes, buscando saciar um desejo. O desejo do cheiro.
Ai, o cheiro da pele, o gosto que ela me trás. A vontade do toque, de percorrer cada pedacinho do cheiro que exala. A audácia do toque.
Corpo que cheira pele, pele que sente o gosto.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O mundo permanece estranhamente igual e ela, também..

E ela acordou. Tudo parecia no mesmo lugar, mas os olhos não reconheciam a realidade. Tudo estranhamente igual e espalhado. Se levantou, e como de costume, seu café já estava preparado do jeito que lhe parecia conveniente, à temperatura e levemente amargo. Serviu e acendeu um cigarro. Observando a fumaça desenhar seu rosto e o aroma do café invadir-lhe a alma, tropeçou entre seus pés sem sair do lugar. No espelho a marca do cansaço e do desespero: olhos fundos, avermelhados e sem brilho. Sem ao menos saber quem se via transcender, aquela imagem não lhe pertencia. Do outro lado do vidro aparecia um outro ser, sem vida, sem movimento.
Corria contra o tempo e parecia cansada de correr de uma coisa que permanecia intacta, estacionada em seu lugar. O tempo. Passa. Voa. E permanece parado. Ela continuou, sem confiar a si mesmo que dentro de si morria um pedaço. Aos poucos. Uma lembrança do que foi e do que poderia ser. Perdida entre os espaços do tempo.
O caminho que percorria todos dias, lhe remetia estranhamento. As árvores, a que tanto gostara, desaparecera. Os carros, se viam a velocidades oscilantes ora rápidos demais, ora em câmera lenta. As pessoas lhe observavam e ela, assustada. Era tanta gente, tantos rostos estranhos e alguns até levemente doces e atenciosos. E assim o dia continuou acontecendo, como todos os dias, iguais. Os mesmos rostos, os mesmos ventos,  até as folhas que caiam das árvores pareciam iguais. O escuro tomou conta de seus olhos, a noite lhe batia a porta. Caminho para casa e em breve, o mesmo colchão encostado na parede, com o lençol branco-amarelado e o travessseiro jogado a esmo lhe esperava para mais uma noite de cigarros e a garrafa de gim seco barato que acompanhava seus pensamentos.
  E ela, enfim, não pertenceu ao dia. Ele se foi, sem que tomasse as medidas do estranhamento. O mundo permanece estranhamente igual e ela? Ela também está irritavelmente igual a todos os dias.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Titulo - em branco

O tempo e as coisas caminham em um ritmo desconexo, realça a magnitude do pensamento e mesmo assim permanece. Cada instante, cada fração desse tempo que buscamos entender é a explicação para que nunca entendamos.
Por que são muitos os elementos da conversa, cada frase colocada. Se você postula mal essa ordem, pronto, é o fim do caminho. Ou o começo - já que o começo é sempre o fim de algum lugar. Um ciclo, uma promessa.
Muita informação, mas pode ser que informação nenhuma. Sabe, quando acordo faço o mesmo ritual. Abrir os olhos, depois fecha-los, pensar no dia que começa. E leio a mesma frase escrita a lápis no papel que colei a altura do pensamento: "Você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off" (C.F.A)
Para vida seguir um caminho, tomar outro, voltar a bifurcação que lhe tirou o chão, isso só depende de nós. Somos autores do nosso próprio livro de sonhos. Se ali aparece um pesadelo, uma árvore sem frutos, uma lágrima pausada no canto do olho esquerdo, foi escrito por quem?
Temos então, uma página em branco. O meu livro já está amassado, marcado pela sombra do lápis escuro que escrevi com força e depois apaguei. Não sai do pensamento o que escrevemos, nem a borracha tira-nos a lembrança. As vezes, dou-lhes o direito de pegar a minha mão o lápis e dialogar com a minha página em branco. Aproveite. Esse tempo pode não ser por muito. Te ofereço o titulo, já me propõe direito a muita explanação.
E lá no fundo há um grande relógio que marca horas contrárias, sem sentido, para você não se perder. Não há atrasos. Então, segue, mas liberte-se para que os ponteiros do relógio volte a girar no sentido das coisas.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Imagens do tempo

Remexi minhas gavetas e revivi lembranças. Fotos antigas, amareladas pelo tempo. Algumas me arrancaram sorrisos e histórias, outras, lágrimas e mais histórias. Tenho um pouquinho de cada uma delas na essência que me constrói, ou destrói, talvez.
O meu medo de escuro, veio de uma imagem bonita, de infância. A menininha de cabelos desgrenhados, sozinha no sofá da sala de vó. Boca grande e lágrimas nos olhos. Tinham tirado de mim a companhia mais prazerosa dos momentos de choro. A sala sem muitos móveis, apenas aquele sofá verde, a televisão e um enorme espaço que me proporcionou quedas e brincadeiras surreais.
Da outra lembrei da sede por liberdade. A primeira queda de bicicleta. O vento bate no rosto e o sorriso transparece involuntariamente. Caí feito fruta madura no pé, ganhei um galo na testa e minha primeira conquista: Aprender a andar de bicicleta sozinha.
Ai veio a mangueira. Onde aprendi a subir em árvores. Foi ali que vi a única coruja da minha vida, da janela, com olhos pretos e penetrantes, brilhava tanto que hipnotizava. Descascava a fruta ainda verde com a boca e comia com sal. Sempre ouvia que ia morrer, mas ainda continuo aqui. Bom, hoje, ela já não existe mais, tem cimento e pedras cobrindo o túmulo da minha infância bonita e cheia de histórias. Aquela era a minha alegria: trepar na árvore, brincar descalça na terra, colher café para a tarde e comer alguns grãos, correr atrás das galinhas quando soltas e inventar coisas no balanço feito pelo meu avô.
Mais tarde, notei que a criança tinha crescido. A foto ao lado do primeiro amor. Aii, quanta lembrança. Achei, junto a foto, o bilhetinho que escrevi e nunca entrei. O menino parecia um ratinho, mas fazer o que (?!) foi ele que me fez derramar a primeira lágrima de amores platônicos. Primeiros anos de escola e como ele poderia olhar pra mim, eu joga bola com ele no pátio. Pudera! Primeira desilusão.
Tem um álbum, em especial, que choro sempre que vejo. Onde estão as pessoas que me iniciaram no meu mundo de hoje: a arte. Palhaços, pirotecnia, música, performances. Ali tinha de tudo. Uma casa pequena, mas que abrigava alguns personagens brilhantes e tinha nos quatro cantos espalhados a arte. Foi onde traduzi a vida em melodia pela primeira vez, tinha meus 11 ou talvez 12 anos. Pronto! A partir daquele momento eu não tirei de mim a sensação mais gostosa, era uma liberdade e um brilho intenso nos olhos. Que carrego até hoje quando subo no palco.
São tantas histórias, tantas fotos, tantas lembranças, tanto de mim. Sou isso tudo. O medo de ir sozinha, a liberdade do vento, o contato com a natureza, a paixão pela arte, um tanto de desilusão e muito de amor. Nesse meio tempo me deparei com outras coisas que fazem de mim o que sou. Pessoas, lugares, espaços e desencontros. Os perdidos são maiores, mas encontrei flores que trago comigo. Da intensidade silenciosa, do amor inteiro, da música, dos palcos, da vida, da liberdade. De um todo (ou tudo) que sinto falta e de um todo (ou tudo) que tenho.
Sou imensidão vasta presa dentro do peito. Imaginação inebriante. Sou amigos, sou amor, sou familia, sou arte, sou gosto, sou desejo e disso tudo quero apenas completar: sou um todo de uma parte que já me tinha.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cinza demais

Tem dias que acordo com vontade de voltar ao sono, só para continuar estontiada com o clarão que transparece naquele sorriso e esquecer que meus olhos precisam se abrir.

E hoje é um daqueles dias que amanheceu tudo cinza. Nem o azul do céu, tampouco o brilho do sol. Os olhos marejados, a ausencia do sinal. Fez-se da dança, o balançar do corpo inerte. Parece que o coração pára batendo rápido demais. É sentir a passagem do sangue quente percorrendo cada milimetro do corpo. Uma certa mistura de sensações termicas, quente e frio.
Sem brilho e vivacidade, a lente da câmera que está em minhas mãos. Embaçado demais para tornar limpida e suave a imagem. Opaco! E tudo que eu queria era um abraço dos braços que me aconchegam...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Diz de sensação e essência, dentro de mim, chamo de amor

É engraçado como sensações podem ser unicamente sentidas e compartilhadas por pessoas diferentes, em momentos distintos e de diversas formas. Nesses ultimos tempos, as sensações brotam em mim em um misto de essências, prazeres e dores. Mas de todas, a que eu sempre gosto de relembrar é a imagem de quando, depois de te ver sorrir e te abraçar sem mesmo te conhecer e sentir o teu cheiro em mim, a tua boca chegar a minha e eu a ver através da lente da câmera que buscava registrar o momento. (meus olhos tocam essa foto todos os dias). Foi o beijo mais doce e ardente que já ganhei, com ternura e desejo, com sede e carinho. É como arder sem se queimar, mas se queimasse eu também estaria com um sorriso largo porque saberia que a marca me lembraria o rosto singelo e lindo, o sorriso gostoso e invasor, o gosto que não sai da boca, o cheiro que enebria o meu ar. Lhe descrevi essa cena, com as palavras enchutas, recolhidas na timidez.
Hoje, me deparei com um texto, escrito por uma amiga, que descrevia um momento unicamente dela, mas que me lembrou muito a sensação gostosa de manter sempre vivo na memória e sentir o coração palpitar, o sorriso não caber em mim quando me recordo daquele momento vivido com quem habita a minha vida. Deixo ai para os que quiserem entender a sensação que compartilhei com ela fumando um cigarro, agora com palavras que não são minhas, mas que poderia ser. Um sentimento meu descrito pelo momento de uma amiga, em outro tempo, mas que se pareceu tanto.
Nina, só para constar, belas palavras, agora sim entendo o que nem precisou me dizer. Vai ser feliz como eu sou com a pessoa incrivel que caminha do meu lado. Se permita a viver, assim como eu e ela estamos nos permitindo.

"O verbo amar a razão rejeita."
E me diz para que buscar a razão? Eu vivo em plenitude quando estou amando..


"           Boa noite
Agora, minhas noites parecem longas e quentes... e frias também; o frio causado pelo calafrio, aquele que não só me arrepia por completo, mas também me paraliza e acelera...
Ela me cobre, e me aquece... ela pode me sentir...  causando sensações de tormento e desejo... fiquei tonta demais pra descobrir  qual sensação era a verdadeira.
Me perdi na escuridão daqueles olhos e no hálito doce e ardente da sua boca... ela me envolvia protetora e audaciosamente, sua mão gélida deslizava na minha pele inflamável provocando faíscas de profundos desejos... receiosos e desconhecidos... eu já estava absurdamente hipnotizada, procurando respostas que explicassem aquela deliciosa confusão em mim...e já incapaz de me afastar... suas mãos se fundiram em meus cabelos, me levando a um transe malicioso e assustador , fazendo com que descargas elétricas percorressem todo o meu corpo... era como flutuar numa ilha de energia... Meu Deus! Que sensação embriagante de ternura e prazer...
Nesse momento, senti como se nossas essências estivessem mergulhadas numa só alma... me dei conta de que estava totalmente entregue quando ela trabalhou seus dedos longos e frios por cada feição do meu rosto...e quando alcançou meus lábios, meu coração martelava violentamente no peito e de repente eu senti o sangue borbulhar e correr nas minhas veias... Cada centímetro dela se encaixava em mim como se não pertencêssemos a mais nada. E quando alcancei sua respiração, a doçura me inundou...meu controle se perdeu no toque eletrizante daquela pele fria no meu pescoço.. .o calor daquele corpo me arrancava toda a razão, destruindo todos os meus muros e me afogando no sabor daquele momento... a sensualidade daquele carinho me fazia tremer, e eu tremia... os braços dela me envolveram e eu tinha a sensação que cada terminação nervosa do meu corpo era um fio desencapado, então eu tive que me lembrar de como respirar... eu precisava respirar! Aí eu desisti de tentar pensar... Simplismente aceitei todo o seu feitiço... toda a fantasia perfeita e deliberadamente delicada... os movimentos dela pareciam de uma leveza horripilantemente sedutora, precisei pressionar meus lábios num ato desesperado de esvair toda aquela vontade...
Estavamos num redemoinho de fogo... o universo podia esfarelar ou explodir, ou mesmo arder em cinzas... desde que eu pudesse mantê-la segura, dentro de mim."
                                                                                                    Nina Araújo

sábado, 26 de março de 2011

Falando de flores, traduzindo o amor..

Meninas são tão frágeis, mulheres são tão sensíveis.
Feminino - é significativo causar a razão às coisas. Mulheres cultivam jardins e campos de flores, para ve-las nascer, crescer e depois, morrer. Caem ao chão sem pétalas, sem o perfume que exalava com o vento. Flores tem vida própria, lutam pela sobrevivência. Quando estão junto a terra, semeiam o pólen para procriar vidas. E criam muitas delas: bonitas, perfumadas, vistosas aos olhos e sensivel ao coração. Mas há mãos pesadas, que teimam em tirar o brio daquele olhar, arrancando-nas. Corrida contra o tempo. E sempre está ali, o seu lado feminino tentando não deixa-las ir, é zeloso as vezes. O cuidado parte de mãos suaves - mulheres. A lei da natureza entra em ação e elas, mesmo com o carinho da alma feminina, morrem. Sem a vivacidade exuberante que tinhas, mas com o contorno da forma suave e agora seca.
Meninas, brincam e correm nos jardins e nos campos cultivados. A delicadeza dos olhos confundem-se com a maravilha das flores. Ela não entende esse ciclo, mas eu sim, o vejo e experimento a rotatividade do tempo. O toque é ingênuo, o respirar enche teus pequenos pulmões de um cheiro agradável. Elas sorriem e dançam, juntas, ao vento. São cores tão chamativas que hipnotizam. As mãos ríspidas tornam a arranca-las. Os olhos da menina partem de uma tristeza, como se algo fosse arrancado de dentro dela. A lágrima é inevitável.
Chega a ser cruel o que fazem. E eu me pergunto: será mesmo que o coração sensivel, aberto pelo sopro infantil, aguenta? Será que os olhos que brilham com encanto, permanecerá? E o sorriso transcendente, continuará estontiador?
O ciclo daquela flor ruiu, mas ela deixou alguns descendentes que tratariam de manter suas cores e seu perfume. O campo ainda está florido, não se acaba com eles desta forma. Nem devastações, nem temporais. E a menina/mulher, agora vestidas de um mesmo trage, caminham entre as flores guardando o encanto. A alma feminina, o corpo, a mente e os desejos. Era uma linda flor, mas continuariam ali, para cuidar das que ficaram.

O amor que está em mim...