Páginas

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O mundo permanece estranhamente igual e ela, também..

E ela acordou. Tudo parecia no mesmo lugar, mas os olhos não reconheciam a realidade. Tudo estranhamente igual e espalhado. Se levantou, e como de costume, seu café já estava preparado do jeito que lhe parecia conveniente, à temperatura e levemente amargo. Serviu e acendeu um cigarro. Observando a fumaça desenhar seu rosto e o aroma do café invadir-lhe a alma, tropeçou entre seus pés sem sair do lugar. No espelho a marca do cansaço e do desespero: olhos fundos, avermelhados e sem brilho. Sem ao menos saber quem se via transcender, aquela imagem não lhe pertencia. Do outro lado do vidro aparecia um outro ser, sem vida, sem movimento.
Corria contra o tempo e parecia cansada de correr de uma coisa que permanecia intacta, estacionada em seu lugar. O tempo. Passa. Voa. E permanece parado. Ela continuou, sem confiar a si mesmo que dentro de si morria um pedaço. Aos poucos. Uma lembrança do que foi e do que poderia ser. Perdida entre os espaços do tempo.
O caminho que percorria todos dias, lhe remetia estranhamento. As árvores, a que tanto gostara, desaparecera. Os carros, se viam a velocidades oscilantes ora rápidos demais, ora em câmera lenta. As pessoas lhe observavam e ela, assustada. Era tanta gente, tantos rostos estranhos e alguns até levemente doces e atenciosos. E assim o dia continuou acontecendo, como todos os dias, iguais. Os mesmos rostos, os mesmos ventos,  até as folhas que caiam das árvores pareciam iguais. O escuro tomou conta de seus olhos, a noite lhe batia a porta. Caminho para casa e em breve, o mesmo colchão encostado na parede, com o lençol branco-amarelado e o travessseiro jogado a esmo lhe esperava para mais uma noite de cigarros e a garrafa de gim seco barato que acompanhava seus pensamentos.
  E ela, enfim, não pertenceu ao dia. Ele se foi, sem que tomasse as medidas do estranhamento. O mundo permanece estranhamente igual e ela? Ela também está irritavelmente igual a todos os dias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário